Embora a continuidade dessa guerra comercial entre China e Estados Unidos siga trazendo oportunidades para o mercado brasileiro de soja quando o assunto é a maior concetração de demanda chinesa, as alfinetadas de Donald Trump mantêm os preços da oleaginosa sob pressão na Bolsa de Chicago. No pregão desta terça, os futuros da oleaginosa voltaram a recuar e terminaram o dia com baixas de mais de 7 pontos entre os principais contratos. Mais cedo, as perdas passavam dos 8 pontos.
Assim, o contrato agostou fechou com US$ 8,78 e o novembro, US$ 8,96 por bushel, mais uma vez perdendo o patamar dos US$ 9,00.
Como explica o analista de mercado Mário Mariano, da Novo Rumo Corretora, essa 'decepção' vinda das notícias políticas ajuda a confirmar a fraca demanda chinesa pela soja norte-americana, com embarques ainda bem modestos e consideravelmente menores do que em anos anteriores, o que ajuda a promover essa nova rodada de baixas para as cotações na CBOT.
"Os embarques norte-americanos para a China ainda estão bem aquém do desejado e impedem que o mercado retome a força como o esperado", diz Mariano.
A decepção a que o analista se refere vem dos tweets divulgados pelo presidente Donald Trump nesta terça-feira.
"A China está indo muito mal, seu pior ano em 27, e deveria começar a comprar nossos produtos agrícolas agora, mas não há nem sinais disso. Este é o problema com a China, eles nunca chegam efetivamente. Nossa economia se tornou MUITO maior do que a chinesa nos últimos três anos. Minha equipe está negociando com eles agora, mas eles sempre mudam o acordo no final para se beneficiarem. Eles deveriam, provavelmente, esperar pelas nossas eleições para ver se conseguem alguma coisa com um dos 'democratas durões' como o Joe Sonolento. Assim, eles poderiam fazer um ótimo negócio, como nos últimos 30 anos, e continuar a roubar os EUA, mais do que nunca. O problema como eles esperando, no entanto, é que se eu ganhar o acordo que eles irão conseguir será ainda mais difícil do que o que estamos negociando agora. Nós temos todas as cartas. Nossos líderes anteiores nunca entenderam isso".
Tweet Trump 1
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Essas são as palavras do presidente americano Donald Trump, em sua conta no Twitter nesta terça-feira (30), esquentando ainda mais o clima na guerra comercial entre China e os Estados Unidos. Há meses o mercado já vinha ventilando a possibilidade de um acordo chegar somente depois das eleições presidenciais de 2020, mas a retórica mais ameaçadora do presidente americano começa a traçar novos caminhos para a disputa e ampliar as especulações do mercado global em torno desse conflito.
As negociações recomeçaram em Xangai nesta terça-feira na 12ª rodada de conversas entre líderes chineses e americanos. As expectativas de um acordo são bastante baixas dessas vez. "Ninguém entende a estratégia de falar com aquele tom bem no momento da reabertura das negociações", questiona Steve Cachia, consultor da Cerealpar e da Agro Culte. "Na minha opinião, está batendo um nervoso, enquanto a China está tranquila e o tempo está passando. Ao invés de usar um tom diplomático e conciliatório, usou palavras de crítica, pressão e até ameaçador", completa.
Assista a entrevista do professor Roberto Dumas Damas, especialista em China, sobre o desenvolvimento do conflito e os impactos na economia mundial:
>> China x EUA: Acordo final vai ser difícil e demorará muito a acontecer, diz economista
Sobre um possível agravamento do conflito, Cachia diz acreditar em um status quo. "Com a China abrindo mão das taxas de retaliação quando convém e fechando logo em seguida, e os EUA subsidiando o produtor para impedir uma quebra", explica.
DEMANDA X PREÇOS E PRÊMIOS NO BRASIL
Se a demanda maior da China por soja está concentrada no Brasil, os efeitos sobre os preços formados no mercado brasileiro têm demorado a aparecer. A demanda um pouco mais lenta da nação asiática - em partes impactada pela grave epidemia de Peste Suína Africana - impede que as cotações reajam de forma mais consistente e os prêmios, neste momento, chegam até mesmo a registrar algum recuo.
Entre os prêmios, as principais posições de entrega têm entre 85 e 95 centavos de dólar acima dos valores praticados na Bolsa de Chicago, enquanto eram cerca de 5 cents mais altos na semana passada, ainda como explica Mario Mariano. Nos portos do país, as referências, portanto, ainda variam entre R$ 77,50 e R$ 78,50 por saca - registrando baixas de mais de 1% nesta terça-feira - entre o disponível e indicativos para agosto.
De acordo com o analista da Novo Rumo, a indústria brasileira teria um fôlego melhor para pagar pela soja neste momento em relação ao mercado exportador.
Publicado em 30/07/2019 18:17
Tags: Soja
Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas