Estudo relaciona déficits na produção de grãos em território nacional com condições de armazenagem e transporte
A produção de soja e milho no país aumentou mais de 90% entre 2006 e 2015, atingindo patamares de quase 200 milhões de toneladas produzidas — em decorrência do aumento de área plantada, de produtividade e do número de safras no ano. Entretanto, para estabilizar a oferta de grãos da fazenda até o consumidor é preciso ser eficiente na redução das perdas que ocorrem nas atividades logísticas nestes elos.
“As perdas podem ser entendidas como uma ineficiência que afeta negativamente a sustentabilidade econômica, ambiental e social da cadeia produtiva de grãos no Brasil, por incorrer em desperdícios financeiros e ambientais, além de provocar uma redução da oferta de soja e milho no sistema”, comenta o engenheiro agrônomo Thiago Guilherme Péra, coordenador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade.
Os resultados são frutos de uma dissertação de mestrado realizada por Péra, sob orientação do professor José Vicente Caixeta Filho e desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Sistemas Logísticos da Escola Politécnica (Poli) da USP. No trabalho, traça-se um diagnóstico detalhado dos déficits de soja e milho durante o transporte e armazenagem no Brasil — desde as fazendas até os centros consumidores e portos, passando por ferrovias e hidrovias.
O pesquisador mapeou também perdas recorrentes a cada atividade logística da soja e do milho no país, desenvolvendo um modelo matemático para quantificar os prejuízos físicos, econômicas e ambientais para cada estado produtor a fim de avaliar cenários de mitigação dos danos.
O estudo identificou que os problemas na logística dos alimentos mencionados atingiu patamares na ordem de 2,381 milhões de toneladas em 2015 (1,303% da produção), trazendo déficit econômico em torno de R$ 2,04 bilhões — decorrente de custos de oportunidades com vendas perdidas e gastos desnecessários.
A atividade logística de maior nível de perda é a armazenagem, responsável por 67,2% dos decréscimos anuais. Na sequência, o transporte rodoviário com 13,3%, o terminal portuário com 9,0%, o transporte multimodal ferroviário com 8,8% e o transporte multimodal hidroviário com 1,7%.
Os cinco maiores estados produtores de grãos apresentaram perdas variando entre 0,995% (Mato Grosso do Sul) e 1,671% (Rio Grande do Sul) em relação à quantidade produzida. Para o caso do milho, o maior prejuízo é de 1,766% no Mato Grosso e, o menor, de 1,394% no estado vizinho — Mato Grosso do Sul.
Para a situação da soja, a maior perda é de 1,736% no Rio Grande do Sul e a menor de 0,933% em Goiás. Para os estados da fronteira agrícola brasileira denominada de Matopiba, a máxima observada para grãos foi de 1,257% no estado do Tocantins e a menor de 0,220%, no Piauí.
Ademais, a pesquisa analisou o custo ambiental de tais diminuições. “As perdas físicas de soja e milho demandaram combustível nos caminhões, locomotivas e puxadores das barcaças para execução da logística, o que implica em uma emissão de dióxido de carbono na atmosfera desnecessária, girando na ordem de 38 mil toneladas”, comenta o autor.
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